©Jacques Villeglé
Ao correr para apanhar um táxi, o vento empurrou aos seus pés um pedaço de cartaz lacerado, anuncio de um concerto qualquer na cidade onde se encontrava.
‘Les jeux sont faits " pensou ele. Era evidente. Nápoles e Lisboa, dois labirintos impenetráveis, e tanto uma como outra , duas cidades hábeis em questões de estragos. Pouco importa se era sequência de propaganda ou de publicidade . As suas imagens assemelham-se a estes pedaços de belos cartazes agora lacerados.
Deu a volta à chave, entrou. No quarto, o silêncio. Na penumbra adivinhava as obras expostas. John Giorno, Françoise Janicot, Bernard Heidsick, Jean Jacques Lebel, Paul Armand Gette, Paolo Stampa, Michel Iodice, Joel Ducorroy Giuseppe Zevola... e quantos outros. Os livros. O caixão. Que estranho este caixão transparente e tudo o que lá esta dentro. Que historia tão surpreendente.
Dez anos. Dez anos, sem nunca ter cruzado ninguém, sem nunca aparecer a um qualquer encontro marcado. Dez anos ignorando todos os ‘rendez-vous’.
Ela também conhecia alguém assim em Lisboa, "Un apprenti séducteur". Não te chega ao calcanhar, tinha-lhe dito. Não tem a tua classe.
Un Mythe dans la Ville...a projecção da véspera , de Jacques Villeglé .
Nunca titulo veio tanto a calhar. Dez anos. Dez anos que viram aqui passar milhares de pessoas. Fascinados que estavam com a cidade e este sitio único inventado no centro da parte antiga da cidade gréco romana muitos escreveram artigos, outros livros e ainda outros fizeram filmes. Quando não era desenhar, pintar ou fotografar
É tempo de fechar a casa.
Levantou-se, pegou num postal e escreveu -
O Purgatório fechará as portas no dia 31 Outubro 2011
Até lá, a casa continuaria aberta. Para os que contribuíram de uma maneira ou de outra à historia e para os outros, curiosos de viver a experiência. Ele, ele continuará no desencontro.
(texto inicialmente publicado na Pensão Lisbonense)